segunda-feira, 12 de junho de 2017

O filho feito sem pecado (Luís da Câmara Cascudo)


      
   Uma moça deu à luz uma criança e a mandou educar longe da cidade em que morava, para que ninguém soubesse jamais de sua culpa. O menino cresceu, fez-se homem e veio visitar a cidade, justamente onde sua mãe vivia. O rapaz viu-a, enamorou-se dela e se casou. Meses depois, descansando o marido no colo da mulher, reparou esta numa medalha de ouro, com a efígie de Nossa Senhora da Conceição, lembrança que pusera ao pescoço do filhinho ao separar-se dele. Sentindo-se criminosa e não querendo prolongar aquela união sacrílega, contou sua história ao esposo que era, sem saber, seu filho. Este partiu imediatamente para longe e não mais enviou notícias.

         Depois nascia um filho, batizado com o nome de Tomé, e a mãe anunciou dar um grande prêmio a quem decifrasse o enigma que apresentaria. Não acertando, pagariam uma multa. A mulher educou seu filho como um príncipe, foi muito feliz e morreu rica porque ninguém conseguiu decifrar o enigma que era assim:
             
Meu filho Tomé
Que muito me é!
É filho do meu filho,
Irmão do meu marido.
É meu neto e meu cunhado,
Filho feito sem pecado!


CASCUDO,Luis da Câmara. Contos tradicionais do Brasil.
Adaptação de Luísa Freire. São Paulo: Global, 2003.


COMPREENSÃO TEXTUAL.

1) Quem são as personagens?

2)Qual o tipo de narrador? Transcreva um trecho que comprove sua resposta.

3)Releia o primeiro período do texto:
 “Uma moça deu à luz uma criança e a mandou educar longe da cidade em que morava, para que ninguém soubesse jamais de sua culpa.
Que culpa você acha que a moça queria esconder? Justifique a sua resposta.

4) Qual foi o embasamento da moça para afirmar que Tomé é “um filho feito sem pecado”?

5)Que relações o ouvinte precisa estabelecer para descobrir a resposta do enigma?

6) Divida o texto conforme as partes abaixo, indicando como se inicia cada parte da estrutura básica da narrativa.
a) Situação inicial
b) Conflito
c) Sequencia Final





GABARITO

1) A moça, o filho mais velho/esposo e o filho Tomé.

2) Narrador observador: Narrador em 3ª pessoa (que não participa da história), pois conta os fatos sem qualquer envolvimento direto. Apenas observa.

3) Provavelmente era uma mãe solteira com medo da discriminação que poderia sofrer.

4) Porque quando engravidou do filho Tomé, não sabia que seu marido era, na verdade, seu filho. Ou seja, engravidou-se do marido.

5)Há várias relações de parentesco entre o filho Tomé e o filho mais velho: Tomé é filho do próprio irmão; Tomé é irmão do marido da moça, portanto cunhado  da própria mãe, etc.

6) Estes são os termos que marcam os inícios dos parágrafos de cada parte do texto.
Situação inicial é a definição ou indicação do tempo, espaço, das personagens e a questão que será abordada. No texto, esta parte inicia-se com  “Uma moça deu à luz...”

Conflito é a resolução do conflito que justifica e movimenta a trama da narrativa ficcional. O clímax é o ponto mais intenso do conflito. No texto, esta parte inicia-se em “Meses depois, ...”

Sequência final é quando o leitor descobre como o conflito foi resolvido na trama. No texto, esta parte inicia-se com “Depois...”

Fica assim:
         Uma moça deu à luz uma criança e a mandou educar longe da cidade em que morava, para que ninguém soubesse jamais de sua culpa. O menino cresceu, fez-se homem e veio visitar a cidade, justamente onde sua mãe vivia. O rapaz viu-a, enamorou-se dela e se casou. Meses depois, descansando o marido no colo da mulher, reparou esta numa medalha de ouro, com a efígie de Nossa Senhora da Conceição, lembrança que pusera ao pescoço do filhinho ao separar-se dele. Sentindo-se criminosa e não querendo prolongar aquela união sacrílega, contou sua história ao esposo que era, sem saber, seu filho. Este partiu imediatamente para longe e não mais enviou notícias.

         Depois nascia um filho, batizado com o nome de Tomé, e a mãe anunciou dar um grande prêmio a quem decifrasse o enigma que apresentaria. Não acertando, pagariam uma multa. A mulher educou seu filho como um príncipe, foi muito feliz e morreu rica porque ninguém conseguiu decifrar o enigma que era assim:
             
Meu filho Tomé
Que muito me é!
É filho do meu filho,
Irmão do meu marido.
É meu neto e meu cunhado,
Filho feito sem pecado!