segunda-feira, 22 de maio de 2017

O que é literatura?

Apesar de a literatura já existir há muito tempo, ainda há muita discussão sobre a sua natureza e funções.

A literatura é uma criação humana que reflete as necessidades e valores do home, bem como suas relações com o mundo e seus semelhantes. Por isso, ao longo do tempo, apresenta-se em diferentes maneiras e com diferentes características.

Entre tantas definições, podemos dizer que Literatura é a arte que utiliza a palavra.

É importante ressaltar ainda que a literatura recria realidades – ficção. É isso que acontece em Vidas Secas, de Graciliano Ramos. A história estabelece uma ligação com o mundo real, possibilitando ao leitor, além do entretenimento, uma reflexão sobre a realidade.

“Assim como um pintor inventa cenas fazendo uso da tela, tinta, pinceis, um escritor inventa realidades utilizando palavras.”

(Faraco&Moura, “Língua e Literatura”. Ed. Ática, 1995)



E falando em recriar a realidade...



Observe os quadros dos pintores Marc Chagall e Renné Magritte.

Marc Chagall, O aniversário, 1915, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque.


Clarividência, Renné Magritte, 1936, Galerie Isy Grachot, Brussels-Paris.


1 - Qual dos dois quadros "distorce" mais intensamente as formas da natureza? Justifique.

2 - No segundo quadro,, vemos Magritte pintando, numa tela, a figura de uma ave. Explique por que, apesar da fidelidade da representação da ava, podemos dizer que o pintor foge ao senso comum e satisfaz aquela necessidade da "recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida". A partir de sua resposta, explique o título Clarividência dado ao quadro por Magritte.

2 - No quadro de Chagall, as figuras humanas são deormadas e flutuam no ar. Faça uma interpretação da "liberdade" com que Chagall representou o casal de amantes no dia do aniversário.




GABARITO

1. O quadro de Chagall distorce mais intensamente. A perspectiva é deformada, as proporções não são respeitadas e, principalmente, as figuras humanas têm forma e posição insólitas: além de distorcidas, flutuam no ar, desrespeitando a lei a gravidade. no quadro de Magritte, a perspectiva, o jogo de luz e sombras e as formas das figuras são representados de modo realista.

2. Porque o modelo do pintor não é uma ave, mas um ovo. Portanto, ainda que a forma da ave não apresente grandes deformações, ela distancia-se da realidade que lhe serviu de modelo. Ao representar o ovo, o pintor "substituiu-o" pelos pensamentos e sentimentos que teve ao contemplá-lo e pintou a futura ave que nasceria dele. daí o título do quadro. o artista vê a realidade com ima "clareza" ou com uma luz diferente da do olhar comum. como um vidente, ele vê além da superfície percebida pelo sentido. ele é capaz de prever os acontecimentos: no ovo, j-a vê a futura ave.

3. Chagall quis pintar o amor e a felicidade, não simplesmente um homem e uma mulher se beijando. por isso, as leis da natureza são suspensas: o casal flutua, como se não existisse a gravidade, ou como se a felicidade lhes desse uma leveza incomum. assim, também, o corpo ganha tal elasticidade que não há obstáculos físicos à realização do beijo.


Fonte dos exercícios: Novas palavras: língua portuguesa: ensino médio / Emília Amaral ... [et al.]. - 2.ed.renov. p. 15 - São Paulo : FTD, 2005. - (Coleção Novas Palavras).







Apoiando-se no espaço vazio (Marina Colasanti)


Este miniconto incrível nos surpreende assim como  nos surpreendemos constantemente no mundo real com as pessoas que nos rodeiam  ou com nós mesmos. Leva-nos a refletir também sobre as nossas preferências para sermos felizes: aceitar o outro como é ou mentir a si mesmo?





Boa leitura.



Durante mais de 20 anos partilhou a cama com sua esposa chinesa. E embora Ching-Ping-Mei não lhe tivesse dado filhos, sabia o quanto ela os desejara.Várias vezes, ao longo daquele tempo,dissera-lhe estado grávida,perdendo a criança em lamentáveis acidentes. E ele piedosamente fingira acreditar, para não ferir sua delicada sensibilidade oriental.

Gentilmente, amavam-se. Recato,escuridão,jogos de leques. Assim se procuravam desde sempre na penumbra do quadro. Corpos nunca revelados, névoa de incenso, o amor envolto em véus e cortinados, conservando o mistério dos primeiros dias.

Porém, adoecendo Ching-Ping-Mei, exigiu o médico que abrissem as janelas e se fizessem luz, tornando possível o exame. E embora ele se mantivesse do lado de fora da porta, em discreta espera, não lhe foi permitido escapar à revelação trazida junto com o diagnóstico.

A paciente logo sararia, comunicou-lhe o médico, porém ele considerava seu dever comunicar-lhe que a luz da medicina, e não obstante a graça e a doçura inegáveis sua esposa Ching-Ping-Mei era, na verdade, um homem.

Atordoado, cambaleou sentindo esboroar-se o cerne do amor, estendeu as mãos à frente. Mas em que apoiar-se, se ele próprio, apesar da barba e dos bigodes, e sem que amada jamais desconfiasse, era, e tinha sido ao longo daqueles anos todos, mulher?




Veja aqui um magnífico trabalho de estudo mais aprofundado sobre esta obra.


Sobre a autora

Marina Colasanti ( 26 de setembro de 1937) é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira nascida na então colônia italiana da Eritreia. Viveu sua infância na Líbia e então voltou à Itália onde viveu onze anos. Emigram para o Brasil em 1948, em razão da difícil situação vivida na Europa após a Segunda Guerra Mundial.
No Brasil estudou Belas-Artes e trabalhou como jornalista, tendo ainda traduzido importantes textos da Literatura italiana. Como escritora, publicou 50 livros, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil. Seu primeiro livro foi lançado em 1968 e se chama Eu sozinha.
Seu livro de contos "Uma ideia toda azul" recebeu o prêmio O Melhor para o Jovem, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. É casada com o também escritor Affonso Romano de Sant'Anna, e irmã do ator Arduíno Colassanti.
Em 2010, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Passageira em trânsito.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.