segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

QUESTÕES SOBRE ROMANTISMO - ENEM E CONCURSO

QUESTÃO  13
Provas: CESPE 2016 – Instituto Rio Branco Diplomata Parte 2

Acerca da vida cultural no mundo moderno, julgue (C ou E) os itens subsequentes.

Uma das preocupações legadas pelo Romantismo a diversos movimentos de vanguarda nas artes visuais do final do século XIX e início do século XX, como o Expressionismo e o Cubismo, foi a tendência a idealizar o passado medieval europeu, combinada à crítica à tecnificação das relações entre os seres humanos e a natureza.

(   )Errado
(   )Certo

QUESTÃO 14
Provas: CESPE 2016 – Instituto Rio Branco Diplomata – Parte 2

Acerca da vida cultural no mundo moderno, julgue (C ou E) os itens subsequentes.

Característica comum a diferentes meios de expressão artística do Romantismo europeu foi a crítica ao racionalismo cientificista associado, entre outras, à figura de Isaac Newton.

(   )Errado
(   )Certo


QUESTÃO 15
Provas: INEP 2016 – ENEM – Prova Amarela Segundo Dia 2 – 2ª aplicação

O último longa de Carlão acompanha a operária Silmara, que vive com o pai, um ex-presidiário,
numa casa da periferia paulistana. Ciente de sua beleza, o que lhe dá certa soberba, a jovem acredita que terá um destino diferente do de suas colegas. Cruza o caminho de dois cantores por quem é apaixonada. E constata, na prática, que o romantismo dos contos de fada tem perna curta.
VOMERO, M. F. Romantismo de araque. Vida Simples, n. 121, ago. 2012

Reconhece-se, nesse trecho, uma posição crítica aos ideais de amor e felicidade encontrados nos contos de fada. Essa crítica é traduzida

a) pela descrição da dura realidade da vida das operárias.
b) pelas decepções semelhantes às encontradas nos contos de fada.
c) pela ilusão de que a beleza garantiria melhor sorte na vida e no amor.
d) pelas fantasias existentes apenas na imaginação de pessoas apaixonadas.
e) pelos sentimentos intensos dos apaixonados enquanto vivem o romantismo.


QUESTÃO 16
Provas: INEP 2015 ENEM - Prova Azul Segundo Dia

Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina. Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse. Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade era desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência em sua vontade, do que a velha parenta.

ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006

O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado em 1875 . No fragmento transcrito, a presença de D. Firmina Mascarenhas como "parenta" de Aurelia Camargo assimila práticas e convenções sociais inseridas no contexto do Romantismo, pois

a) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher ao retratar a condição feminina na sociedade brasileira da época.
b) o trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos sociais no enredo de seu romance.
c) as características da sociedade em que Aurélia vivia são remodeladas na imaginação do narrador romântico.
d) o narrador evidencia o cerceamento sexista à autoridade da mulher, financeiramente independente.
e) o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito avançados para a sociedade daquele período histórico.






GABARITO

QUESTÃO 13 - Errado
QUESTÃO  14 - Certo
QUESTÃO 15 - C
QUESTÃO 16 - D


SINOPSE DO LIVRO SENHORA, DE JOSÉ DE ALENCAR



Senhora, publicado em 1875, constitui um dos romances mais complexos de José de Alencar, pela concentração nos problemas humanos e suas implicações psíquicas, elemento fundamental para o romance psicológico.
Moça pobre e órfã de pai, Aurélia Camargo é noiva de Fernando Seixas, rapaz de boa índole, mas entusiasmado pela perspectiva d um bom dote. Assim é que ele troca o amor de Aurélia pelo dote de Adelaide.
Aurélia, porém, fica milionária com a morte do avô e quer reaver seu ex-noivo, oferecendo-lhe um dote de cem contos, quantia elevada para a época. Fernando aceita o casamento, mas em vez de esposa encontra uma “senhora” de quem se sente escravo; na noite do casamento, Aurélia comunica-lhe que deverão viver como estranhos, embora aparentado felicidade perante a opinião pública. Fernando trabalha com afinco para conseguir a soma necessária para saldar o seu compromisso e reconquistar Aurélia.
O romance é constituído de quatro partes e cada uma delas recebe um nome estritamente comercial:
1ª parte: o preço
2ª parte: Quitação
3ª parte: Posse
4ª parte: Resgaste



  
Biografia e principais obras de José de Alencar

José de Alencar (1829-1877) foi romancista, dramaturgo, jornalista, advogado e político brasileiro. Foi um dos maiores representantes da corrente literária indianista. Destacou-se na carreira literária com a publicação do romance "O Guarani", em forma de folhetim, no Diário do Rio de Janeiro, onde alcançou enorme sucesso. Foi escolhido por Machado de Assis, para patrono da Cadeira nº 23, da Academia Brasileira de Letras.
O regionalismo presente em suas obras, abriu caminho para outros sertanistas, preocupados em mostrar o Brasil rural.
José de Alencar criou uma literatura nacionalista onde se evidencia uma maneira de sentir e pensar tipicamente brasileiras. Suas obras são especialmente bem sucedidas quando o autor transporta a tradição indígena para a ficção. Tão grande foi a preocupação de José de Alencar em retratar sua terra e seu povo que muitas das páginas de seus romances relatam mitos, lendas, tradições, festas religiosas, usos e costumes observados pessoalmente por ele, com o intuito de, cada vez mais, abrasileirar seus textos.
Famoso, a ponto de ser aclamado por Machado de Assis como "o chefe da literatura nacional", José de Alencar morreu aos 48 anos no Rio de Janeiro vítima da tuberculose, em 12 de dezembro de 1877, deixando seis filhos, inclusive Mário de Alencar, que seguiria a carreira de letras do pai.
Obras de José de Alencar

Cinco Minutos, romance, 1856;
Cartas Sobre a Confederação dos Tamoios, crítica, 1856;
O Guarani, romance, 1857;
Verso e Reverso, teatro, 1857;
A Viuvinha, romance, 1860;
Lucíola, romance, 1862;
As Minas de Prata, romance, 1862-1864-1865;
Diva, romance, 1864;
Iracema, romance, 1865;
Cartas de Erasmo, crítica, 1865;
O Juízo de Deus, crítica, 1867;
O Gaúcho, romance, 1870;
A Pata da Gazela, romance, 1870;
O Tronco do Ipê, romance, 1871;
Sonhos d'Ouro, romance, 1872;
Til, romance, 1872;
Alfarrábios, romance, 1873;
A Guerra dos Mascate, romance, 1873-1874;
Ao Correr da Pena, crônica, 1874;
Senhora, romance, 1875;
O Sertanejo, romance, 1875.






Análise de texto: Senhora – José de Alencar


Informações:

Ano: 1875,  data da publicação do romance Senhora.
Autor: José de Alencar
Lugar: Rio de Janeiro, lugar onde transcorre a ação.
Personagens principais do romance: Aurélia Camargo e Fernando Seixas



Imagine a seguinte situação:

Estamos em 1875, em São Paulo. Você está muito ansioso, porque finalmente chegara a carta tão esperada de seu amigo do Rio de Janeiro, José.  Agora ficaria sabendo todos os detalhes do comentado casamento de Aurélia Camargo com Fernando Seixas. Você se dirige ao escritório. Senta-se em frente à janela. Abre a carta. Começa ler.


Reunira-se na casa das Laranjeiras, a convite de Aurélia, uma sociedade escolhida e não muito numerosa para assistir ao casamento.
(...)
Não faltaram amigos e conhecidos, que sugerissem a Aurélia a lembrança de fazer o casamento à moda européia, com o romantismo da viagem logo depois da cerimônia, a lua-de-mel campestre, e o baile de estrondo na volta à Corte.
Ela, porém, recusou todos esses alvitres; resolveu casar-se ao costume da terra, à noite, em oratório particular, na presença de algumas senhoras e cavalheiros, que lhe fariam, a ela órfã e só no mundo, as vezes da família que não tinha.
Celebrara-se a cerimônia às oito horas. Lemos conseguira um barão para servir de contrapeso ao Ribeiro e um monsenhor para oficiar.
Quanto à madrinha, Aurélia escolhera D. Margarida Ferreira, respeitável senhora, que lhe mostrara desinteressada amizade, desde a primeira vez que a encontrou na sociedade.
No momento de ajoelhar aos pés do celebrante, e de pronunciar o voto perpétuo que a ligava ao destino do homem por ela escolhido, Aurélia com o decoro que revestia seus menores gestos e movimentos, curvara a fronte, envolvendo-se pudicamente nas sombras diáfanas dos cândidos véus de noiva.
(...)
Os convidados, que antes lhe admiravam a graça peregrina, essa noite a achavam deslumbrante, e compreendiam que o amor tinha colorido com as tintas de sua palheta inimitável, a já tão feiticeira beleza, envolvendo-a de irresistível fascinação.
(...)
Também a fisionomia de Seixas se iluminava com o sorriso da felicidade. O orgulho de ser o escolhido daquela encantadora mulher ainda mais lhe ornava o aspecto já de si nobre e gentil.
Efetivamente, no marido de Aurélia podia-se apreciar essa fina flor da suprema distinção, que não se anda assoalhando nos gestos pretensiosos e nos ademanes artísticos; mas reverte do íntimo com uma fragrância que a modéstia busca recatar, e não obstante exala-se dos seios d’alma.
Depois da cerimônia começaram os parabéns que é de estilo dirigir aos noivos e a seus parentes.
(...)
Para animar a reunião as moças improvisaram quadrilhas, no intervalo das quais um insigne pianista, que fora mestre de Aurélia, executava os melhores trechos de óperas então em voga.
Por volta das dez horas despediram-se as famílias convidadas.

ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo, Moderna, 1984. Cap. 12, p. 82-4.

Vocabulário:

De estrondo: pomposo, luxuoso, grandioso.
Alvitre: sugestão.
Oficiar: celebrar.
Decoro: dignidade, decência.
Diáfano: transparente.
Peregrino: extraordinário, raro.
Assoalhar: mostrar, expor.
Ademane: gesto afetado.
Reverter: sair, provir.
Insigne: notável, célebre.
Em voga: na moda, atual.

Responda:
1 - José de Alencar referiu-se a uma “sociedade escolhida e não muito numerosa”. Em sua opinião, essa sociedade era representada por qual classe social?

2 - Que profissões exerciam as pessoas dessa classe social?

3 - O fato de Aurélia “casar-se ao costume da terra” demonstra que característica do Romantismo?

4 - Aurélia casou-se à moda da terra. Porém, a cerimônia foi cercada por um certo requinte condizente com a sua classe social. Responda:
a) Quais detalhes evidenciam esse requinte?

b) Relacione esse requinte com a visão que o escritor romântico tem da sociedade.

5 - Como Aurélia pode ser caracterizada no momento da cerimônia?

6 - Que impressão José de Alencar passou a respeito de Fernando?








GABARITO
1 - José de Alencar referiu-se a uma “sociedade escolhida e não muito numerosa”. Em sua opinião, essa sociedade era representada por qual classe social?
Pela burguesia, por pessoas de alto poder aquisitivo.
2 - Que profissões exerciam as pessoas dessa classe social?
Resposta pessoal. Sugestão: médicos, advogados, etc.
3 - O fato de Aurélia “casar-se ao costume da terra” demonstra que característica do Romantismo?
O nacionalismo
4 - Aurélia casou-se à moda da terra. Porém, a cerimônia foi cercada por um certo requinte condizente com a sua classe social. Responda:
a) Quais detalhes evidenciam esse requinte?
Oratório particular, traje requintado da noiva, presença de um insigne pianista que executava os melhores trechos de ópera da época.
b) Relacione esse requinte com a visão que o escritor romântico tem da sociedade.
É a visão de uma sociedade burguesa, ideal e perfeita.
5 - Como Aurélia pode ser caracterizada no momento da cerimônia?
Pura, alegre vitoriosa, formosa, esplêndida.
6 - Que impressão José de Alencar passou a respeito de Fernando?
Distinto, modesto, humilde, uma pessoa com sentimento.




sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

BARROCO

GREGÓRIO DE MATOS


Gregório de Matos (1636-1695) foi um poeta baiano do século XVII conhecido como “Boca do Inferno”. Esse apelido foi devido ao fato de, em seus poemas, criticar a Igreja católica, as autoridades locais e os costumes de seus contemporâneos em geral. Nasceu em Salvador, no tempo em que essa cidade era a capital do Brasil Colônia. É considerado o maior poeta do Barroco brasileiro.

Observe de que maneira ele descrevia a cidade de Salvador, sede do governo colonial.

"Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia"

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem freqüente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres*,
Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras** nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.

*Na visão de Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros “homens nobres”.
**usura: desejo exacerbado de poder e riqueza; cobiça.

A Bahia de dessa época aparece com um tom nostálgico, e o poeta faz uma crítica à decadência moral e econômica da cidade naquele momento. Os comerciantes são os detentores do poder político e econômico e agem de maneira oportunista, enquanto os trabalhadores honestos encontram-se na pobreza.
Trata-se de soneto satírico e, como todo soneto, é composto por versos decassílabos em esquema de rimas ABBA, ABBA, CDE, CDE.



Vemos essa mesma inconformidade e lamentação em outro famoso soneto "À cidade da Bahia", onde percebe-se a decadência dos engenhos de açúcar e a ascensão de uma burguesia oportunista.
À cidade da Bahia
Triste Bahia! oh! quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
 
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mim abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh! Se quisera Deus que, de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Fonte: Spina, S. 1995. A poesia de Gregório de Matos. SP, Edusp.